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BILLIE JOE ABRE O JOGO E FALA SOBRE SUA VIDA, FAMA E FÃS, EM ENTREVISTA PARA A KERRANG

A revista inglesa Kerrang! publicou nessa semana uma entrevista com Billie Joe Armstrong. O vocalista do Green Day reflete sobre os seus quase 50 anos e sobre sua carreira na música.


Confira abaixo a tradução exclusiva feita pela equipe da Green Day Brasil.


 

Foto por Jonathan Weiner

Quando estava crescendo, você fantasiava em ser um famoso rockstar, ou você queria apenas escrever e tocar suas músicas como forma de viver? “Meio que as duas coisas. Lembro de querer ser um rockstar estilo Elvis ou Angus Young quando eu era bem pequeno. Então quando comecei a me interessar por música punk e alternativa, estava provado que você não poderia se tornar um rockstar (risos). De muitas maneiras, quando me interessei por punk tinha muito de ‘o punk está morto’ e muitas bandas tentaram dar seus passos em direção ao estrelato. Foi algo que eu busquei de forma passageira. Quando entramos para o punk, parecia quase que seria algo ilegal, então quando aconteceu, foi quase como ‘oh, consegui fazer essa coisa ilegal e me tornei um rockstar ao mesmo tempo’. Eu tirei o melhor dos dois mundos. Mas eu amo todos os níveis disso. Ainda amaria estar em uma van cruzando o país, mas também amo tocar em arenas e estádios. Tudo tem a ver com a jornada e o fato de tentar tornar a vida interessante”.


Você cresceu em uma família bastante musical, o quão isso foi importante para moldar seus gostos desde cedo? “Acho que o fato de meu pai ser baterista foi uma boa influência pra mim. Meus pais estavam tentando fazer com que eu e meus irmãos se envolvessem. Acho que eles recomendaram essa escola de música que ficava em Pinole [na Califórnia], e então minhas irmãs estudaram lá e aprenderam a tocar clarinete e flauta e coisas assim, participando desse tipo de atividade na escola. Havia, definitivamente, muita música no geral, meus pais tinham muitos discos pela casa. Minha mãe ouvia Dolly Parton e Hank Williams, uma de minhas irmãs ouvia Fleetwood Mac, a outra Prince e Rick James e a outra ouvia Journey. Eu ainda fui exposto a muito Led Zeppelin. Meu irmão mais velho, Alan, curtia The Beatles e The Rolling Stones. Eu era uma esponja pra tudo isso”.


Quanto dessa sua educação você trouxe para a sua própria família mais tarde? “Não muita (risos). Eu sempre segui minha esposa, Adrienne. Acho que o que aprendi a fazer foi música. Eu sempre tive instrumentos pela casa, o tempo todo, e isso sempre foi quase como uma maneira de nos comunicarmos de uma forma alheia ao fato de sermos pais e coisas assim. Era quase como ser bilíngue, de muitas maneiras”.


Nos 13 meses após o lançamento do Dookie você se casou e iniciou uma família. Você já falou sobre ficar completamente assustado com isso o tempo todo. Há algo que você teria feito diferente nisso se tivesse a chance de voltar? “Olha... Não, acredito que não. Não tenho arrependimentos sobre nada. Minha vida estava bastante louca, então porque não deixa-la ainda mais louca casando e tendo filhos (risos)? Havia muito comportamento irresponsável e então a realidade se assentou. Não sei como explicar, mas todos os dias aparecia algo novo e mais louco durante aqueles dias”.

Houve algum momento em que você, de verdade, lutou para balancear a vida em família e a sua carreira? “Sempre foi difícil quando precisava estar na estrada e ficar longe deles. Era complicado manter as coisas funcionando. Sabe, havia momentos em que eu estava lá fazendo muita festa, então eu virava a chave e conseguia voltar para casa e ser presente, e um pai decente. Era definitivamente como viver duas vidas, de muitas maneiras. Eu ia de um cara completamente pés no chão e então tentava ser um artista ao mesmo tempo, e eu pensava muito nisso, e as vezes não estava tão disponível. Era complicado, mas acho que consegui manter tudo unido”.


Você sentiu-se confortável em ser atirado ao centro das atenções, especialmente com tão pouca idade? “Não, era completamente desconfortável. Estava completamente fora de minha zona de conforto, porque tudo era caótico. Era como se a cada dia tudo se tornava maior e maior. Era muito excitante, mas também era muito estressante, porque, de uma hora para a outra, você saiu de uma situação onde fazia tudo e dormia no chão e, de repente, todos entravam em frenesi por chegar perto de mim, Mike e Tré. Era insano. Tempos malucos”.


Você está confortável com a fama hoje? “Não, de verdade. Digo, as vezes é fantástico. Quando consigo me comunicar com os fãs e as pessoas são legais, também quando as pessoas conseguem extrair algo da sua música e fazer essas conexões. Mas o que eu acho que deixa tudo desconfortável é o quanto as redes sociais se tornaram tão fodidas e como todos tem uma câmera em seus bolsos agora. Tem muitas pessoas por aí que não são fãs e querem apenas seu minuto de fama, ou algo assim. Querem carregar você nos seus bolsos como um souvenir. Penso que essa parte que as vezes enche o saco. Não gosto de tirar fotos com pessoas (risos). Com os fãs tudo bem. E eu sempre percebo quando alguém é um fã de verdade. Mas tem pessoas que veem você sentado por aí, vestindo pijamas e elas simplesmente querem tirar um pedaço de você para alimentar o próprio ego. Essa é a parte que acho desconfortável. Quando você está em situações comprometedoras. Mas faz parte da jornada e tenho de lutar com isso um pouco”.


Foto por Pâmela Littky

Bem no início do DVD Bullet in a Bible, lançado em 2005, você diz: “Eu sou o Green Day. Esse sou eu. Essa é a minha vida”. Alguma vez isso se tornou uma responsabilidade grande demais para se lidar? “É uma parte enorme de mim. É estranho, porque eu penso que essa coisa do sucesso algumas vezes acabou comigo mentalmente. As pessoas associam coisas que eu fiz com 17 ou 18 anos – 30 anos atrás – com quem eu sou hoje. E você muda muito. Lembro de muitos dos meus amigos que estavam nessas pequenas bandas de punk e pop punk lá no fim dos anos 80 e início dos 90, então suas bandas acabaram e eles iniciaram bandas de rock de garagem, aí essas bandas acabaram e eles de repente estavam em bandas de country alternativo (risos). Eu via como as outras pessoas mudavam e iam de uma coisa para outra, e para mim sempre foi um pouco mais difícil. Há o rótulo de fazer parte do Green Day e as pessoas que te associam com tudo o que você fez no passado. As pessoas têm uma imagem sua na vida delas baseado em algo que você fez há tantos anos, e é como se elas estivessem desconfortáveis com mudanças. Eu sou desconfortável com mudanças, também, mas ela é inevitável e você tem de passar por isso. Com o Green Day é complicado quando as pessoas apenas querem que você seja o cara do Dookie, o cara do Kerplunk, o cara do Insomniac ou o cara do Nimrod. A vida simplesmente muda e você precisa se adaptar e seguir o fluxo, ter novos sonhos e fantasias sobre os tipos de mudança que significam algo para você”.


Se o Green Day estivesse iniciando com uma banda nova agora, na era da rede social e do streaming, como você acha que se sairiam? “Nossa. Não sei! É cada vez mais raro de se juntar três ou quatro pessoas e montar uma banda de rock and roll, sabe? Principalmente porque as pessoas podem fazer gravações caseiras, então sinto que talvez haja mais artistas solo hoje. Juntar uma banda... Jesus! Sei lá. É uma pergunta complicada de responder porque é tudo hipotético, mas eu acho que nós com certeza teríamos pessoas curtindo o que faríamos. Mas se eu acho que teria o mesmo nível de quando gravamos o Dookie? Não tenho certeza. Eu penso que sempre ganhamos novos e jovens fãs, e as pessoas parecem sempre estar descobrindo discos como o Dookie. Acho que tem algo sobre a energia que sempre emanamos. Mas minha resposta é: provavelmente sim e não ao mesmo tempo (risos)”.


Você disse para não se deixar levar por tendências apenas para se manter relevante. Existiu algum momento em que você tentou se encaixar? “Não! É importante nunca entregar para as pessoas o que elas querem; você têm de entregar o que elas não sabem que querem (risos). Claro que você pode desanimar pessoas, mas, digo, comigo, Mike e Tré nós sempre tivemos esse esforço coletivo. É como que se fosse um monstro de três cabeças. Nunca pensei muito sobre isso. Tipo, fazer algo como ‘Good Riddance’ foi algo assustador para mim, me colocando em uma situação de vulnerabilidade. Achei que as pessoas iriam odiar pra caralho, sabe? Mas acho que a forma como ela foi recebida pelo público me permitiu seguir em frente, ‘ok, agora eu atingi algo que foi uma mudança real’. E como artista, me senti mais empoderado de continuar fazendo o que eu sentia ser o certo sem me preocupar em agradar a todos”.


Foto por Jonathan Weiner

Qual foi a reação mais visceral que você já teve para uma evolução no quesito de letras enquanto escrevia uma música? “Em ‘Junkies On A High’ [do Father Of All…], tem uma parte que fala ‘Rock’n’roll tragedy / I think the next one could be me.’ [Tragédio do rock’n’roll / Acho que posso ser o próximo]. Acho que músicos do rock são pessoas bastante problemáticas, acho que é isso que nos difere da música pop, porque para nós não é tudo ‘doces e arcos-íris’. Você pensa em pessoas como Chris Cornell, ou Chester [Bennington], ou Kurt Cobain, ou até mesmo Tom Petty – ninguém sabia que aquele cara havia passado a vida a base de opiáceos. É como passar a vida anestesiado até que você se mata. A música sempre foi uma grande droga para mim, mas, ao mesmo tempo, quando você vê essas situações, você pensa, ‘caralho, quando isso acontecerá comigo?’ Nunca pensei que viveria tanto, e quem sabe quanto tempo eu ainda tenho? Sabe, eu poderia ser atropelado por um ônibus amanhã (risos), ou apenas não acordar um dia. É um negócio assustador pra caralho”.


Isso é algo que você realmente pensa? ‘Se eu sair amanhã posso ser atropelado por um ônibus?’ “(Risos) Não, de verdade, não.”


Saúde mental é um tema mais abordado na música hoje em dia, mas quando o Green Day começou e você escrevia sobre a própria ansiedade, você alguma vez teve essas batalhas internas sobre não expor este seu lado para o público? “Acho que eu meio que iniciei uma crise de meia idade aos 20 anos (risos), porque eu não achava que viveria tanto. É algo que eu sempre tive em mente. Sejam pessoas sofrendo de estresse pós-traumático ou... tipo, todos tem uma parte neurótica em seu cérebro, ou paranoica, ou bi-polar, ou desordem de personalidade. A cena do punk rock para mim era uma cena onde todas essas desordens de personalidade se reuniam o tempo todo. E eu nunca percebi isso, de verdade, até bem depois. Se você se conecta com o punk rock, isso meio que te faz relaxar. De certa forma, é o antídoto para as pessoas realmente problemáticas. Penso que o Green Day seja algo desse tipo: Eu canto sobre diversas angústias e desespero, mas tento fazer isso de maneira divertida. Acho que é por isso que as pessoas se identificam... sei lá. É sobre ser verdadeiro”.


Falando sobre ser verdadeiro, há algum conceito errado sobre Billie Joe Armstrong por aí que realmente te incomoda? “Hmm. Conceito errado? Eu meio que me divirto com os conceitos errados sobre mim. Não sei, não tenho certeza. Me sinto bem e você está me deixando louco agora (risos). Acho que todos entendem errado, em várias formas. Eles dizem ‘oh, você é aquele punk”’ E eu respondo, ‘não, não sou’. Ou, ‘você é um popstar!’ E eu digo, ‘Não, não sou’. Ou, ‘oh, você é o St. Jimmy!’, ‘Não, não sou’. Então dizem, ‘você não é St. Jimmy!’, ‘Sim, eu sou!’... Sei lá, acho que eu sou um pouco de tudo”.


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